quinta-feira, 16 de junho de 2016

Sobre fechamento e gratidão

     Sempre gostei de dizer as pessoas como me sinto. Seja porque adoro e tenho, de fato, muita facilidade em me comunicar, seja porque acredito que compartilhar sentimentos ajuda tanto a multiplicá-los quanto a dividi-los. A comunicação escrita torna-se ainda mais fácil e prazerosa para mim. Um tanto por eu me deliciar em poder descrever as minúcias de tudo, e mais um bocado pela ponderação que ela traz. Parece que quando escrevemos algo, um filtro invisível aparece e todo aquele vômito de palavras verbal se dissolve em concisão e coerência. Pelo menos sempre funcionou assim comigo. É que eu sou muito impulsiva e escrever tolhe um pouco meus instintos. Por isso, vim até aqui, depois de três anos, falar, a quem interessar possa, e principalmente, a todos que me rodeiam no meu cotidiano, fisicamente ou em pensamento, como eu estou me sentindo. 

Primeiramente, aos que não me rodeiam no cotidiano, cabe um "catch up" rápido. Eu não só não emagreci, como tornei a engordar. Ganhei mais 10kgs e perdi ainda mais oportunidades e momentos. Mas o peso não foi uniforme, claro. Tenho uma queda por montanhas-russa, e assim foi a dinâmica do meu reganho de peso. Tive fase herbalife, tive fase sibutramina, tive fase pé na jaca, tive fase pé na cana, tive fase academia e agora - acabou o catch up - estou em outra fase.

Faz muito tempo que estou com sobrepeso  obesidade. Mórbida. Mas nunca antes havia considerado a cirurgia bariátrica. Acho que tudo na vida é uma coisa de momento e o meu só chegou agora. Não estava pronta para lidar com as consequências da cirurgia. Parte porque acreditava que poderia reverter o quadro da maneira tradicional - fechando a boca e fazendo exercício -, parte pelo meu lado anárquico que nega a imposição de limitações.

Este texto NÃO é uma justificativa da minha escolha ou uma tentativa de fazer todos acharem que essa é a melhor, ou mesmo única, saída. Até porque, pasmem, ao contar para as pessoas mais importantes da minha vida, todas foram unânimes na, não só aceitação total, como no apoio irrestrito. Talvez elas já me percebiam sufocar faz tempo. Como eu disse, meu timming atrasou e chegou depois, mas chegou.

Isso aqui é para contar como eu estou me sentindo agora, prestes a entrar na sala de cirurgia, Porque eu simplesmente amo tirar coisas do meu peito e dividir. É quase indescritível toda essa sensação. Medo, ansiedade, frio na barriga e lágrimas. Lágrimas  que pesam toneladas e que foram produzidas por mim ao ver, dentro da minha própria cabeça, tudo que eu vivi e deixei de viver ao longo desse tempo. Elas saem de mim dando lugar a um alívio libertário/libertino/libertador. Todas as sensações que a liberdade pode causar.

Estou fechando um ciclo. Mas acho importante ressaltar que aprendi muita coisa nesse tempo. Atravessei fases. Acabei a faculdade. Comecei a trabalhar. Muita coisa boa também aconteceu.  Curei-me de muita coisa. Conheci a mim mesma muito melhor. Aprendi meus limites e a me respeitar. Aprendi a me aceitar. (Antes eu não só era insatisfeita com minhas gordurinhas a mais, como com absolutamente tudo em mim). Cresci e acho que me melhorei como pessoa. (TERAPIA É VIDA). 

Como cada um acredita no que quiser, acredito que não teria conseguido me afeiçoar tanto por mim mesma - em outros aspectos que não o físico - se não tivesse que superar uma barreira tão grande e gordurosa quanto essa.  Minha auto-estima está muito longe de ser a que eu quero ter um dia, mas ela existe. E apesar de não tão alta (com L mesmo), ela está mais segura e inabalável. Vamos construindo tudo aos poucos, né?

Ainda mais importante é mostrar gratidão.  Por todo esse aprendizado, que não passou despercebido. Pela minha saúde, que apesar de um tanto mais pesarosa, nunca me abandonou. E, principalmente, às pessoas. Ninguém vive sozinho. Como diz JoutJout, gratidão é desacostumar-se das coisas e situações.

Na minha vida, em geral, sou grata a TANTA gente que não tem como e não existem caracteres disponíveis para traduzir tamanha gratidão. Sou uma pessoa de sorte por querer bem a tanta gente e por me sentir muito querida.
-Aos meus inúmeros familiares por terem me proporcionado uma convivência de parentela que trouxe todas as doces lembranças das confusões familiares. Depois que passa, as histórias são sempre hilárias. Além de claro, terem me ensinado, ano após ano, que família unida nem sempre é a da propaganda da margarina, mas aquela em que nos piores momentos, TODOS os ombros são oferecidos. Do coração, a cada um de vocês, primos, tios, agregados e etc, meus mais sinceros agradecimentos.
-Aos meus amigos queridos, vocês são os melhores que eu poderia escolher. Sou mesmo muito sortuda!! Obrigada por todos os melhores momentos da vida!

Mas algumas pessoas merecem um agradecimento especial por terem se feito presentes, também em tantos outros momentos, mas principalmente nesse que vos falo. Pessoas que acompanharam cada pequeno passinho meu desde quando surgiu a ideia, até a agora.

-A minha querida manicure, Cleidinha, que há anos e anos sempre vem na minha casa não deixar uma das minhas poucas vaidades morrer;
-A moça que trabalha na minha casa, Rose, por sempre cortar minhas frutinhas com carinho quando eu resolvo fazer regime e por fazer o melhor feijão da vida;
-A Sandrinha, faxineira da família há anos, que também sempre com carinho faz minha tapioquinha e suco de laranja;
-A minha maravilhoooosa psicóloga, Rebeca, que descortinou pacientemente comigo todos os meus problemas me ajudando a chegar no ponto que estou, que me devolveu a minha aceitação pessoal perdida há tanto tempo e que aliviou meus medos mais profundos;
- A minha massoterapeuta incrível, Cleytinha, que destravou todos os meus nós energéticos - muuuitos - e me fez buscar incessantemente um aprimoramento pessoal a cada sessão;
- As meninas de mãos de fada Mirela e Eliane, que desengarrafaram minhas linfas, ajudaram a  melhorar minha circulação e me ajudaram a relaxar bastante;
- A minha terapeuta heiki/floral, tia Ana Paula, que ajudou a dissipar as energias negativas e a me focar no presente;
- Ao meu sócio Bruno por proporcionar esse momento segurando a onda de tudo com tanta dedicação e responsabilidade, sem nunca reclamar ou pestanejar - já coloquei na conta, Brubis;
- As minhas primas Karine, Mayara e Marília pela amizade além dos laços de família e presença constante na minha vida mesmo quando a presença física é dificultada;
- Ao meus tios Ciane e Mano, por me darem de presente os primos e afilhado mais fofos e queridos do mundo e por estarem de perto acompanhando meu progresso;
- A família Cotias, todos eles: tia Tanis, Batatinha, Manu, Gabi, Bruno, Ribas e irmão - pelos momentos deliciosos vividos na minha segunda casa, dos joguinhos às sessões de terapias com gordices, a disponibilidade sempre de me ajudar seja com sanguinho, seja fazendo a melhor despedida de gordice de todas;
- A Bia, por me dar o carinho de irmão mais novo que meu irmão esquece de dar, por fazer meu irmão tão feliz - consequentemente, me fazendo tão feliz, - e pela companhia e dispnibilidade de sempre;
- A André, por acompanhar cada passo meu e ter me dado mais uma melhor amiga;
 - A Cecília por me aproximar ainda mais de André e por me mostrar que nunca é tarde para fazermos amigos que nos fazem sentir "em casa";
 - A Sara, por me mostrar que não importa o local onde você se encontra, é sempre possível extrair algo de extraordinário e que quando a amizade é verdadeira, jamais se afeta por laços de trabalho;
- A Gabriel, por me mostrar que, apesar do preconceito, fortalecer laços do passado é o melhor lembrete de como todas as pessoas que passam na nossa vida tem uma significância única e potencial para ser incrivelmente especiais;
- A Brenda, por se importar o suficiente para sempre querer me ver melhor, me sentindo melhor e por me mostrar a importância dos detalhes;
- A Olívia, por divertir-se comigo viajando no sofá para todos os lugares onde nossa imaginação manda e apoiar sempre minhas loucuras;
 - A Camila, sem ela, verdadeiramente não sei o que seria, por me tirar de uma situação tão pesada com comidinhas, risinhos, companhias, viagens e tuudo mais que eu precisasse, e por me dar mais uma família tão querida;
 - A Fernanda, meu porto seguro sólido, por oferecer um conforto delicioso que só ela proporciona ao se mostrar sempre tão prestativa nos piores e melhores momentos ;
 - A Eduarda, nossa empatia pelos sentimentos e opiniões uma da outra é inexplicável e livre de qualquer julgamento;
  - A Marília, que sente na pele o que sinto, e que vence comigo cada vitoria minha.
- A minha avó Thereza, pelo apoio da retaguarda nos pequenos detalhes e pela disposição constante de me agradar;
- Aos meus pais, pela incondicionalidade em absolutamente tudo. 
 * Ao meu pai, por me apoiar com doçura, carinho e cuidado nas melhores e piores fases da minha vida. Por me lembrar que a felicidade plena é alcançável, não está relacionada a dinheiro e que urge em ser sentida.
* A minha mãe, por sempre me mostrar que posso ser melhor, por ser minha âncora para o mundo real, por me mostrar que a resiliência reside em mim, por segurar todas as barras e tentar me proteger incansavelmente. - POR TODOS OS CALDINHOS PREPARADOS DE MADRUGADA PARA QUE EU NÃO SENTISSE FOME.
- Ao meu irmão, simplesmente por despertar o maior amor que já senti.

Então tô indo ali fechar um ciclo e já volto. Com toda sorte do mundo, estaremos juntos mais uma vez nessa minha tão esperada nova fase.

"Eu confio, eu entrego, eu aceito, eu agradeço".







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